Assim como sementes de árvores que despertam após dois mil anos de idade, a semente rasta está espalhada por todo o mundo, e vem germinando na mentalidade das novas gerações preservando e disseminando a ancestralidade.
A cultura rastafári traz consigo elementos que trasncendem o tempo, através de inúmeras formas, pela arte, ritos, música, dança, culinária, mas pincipalmente pela tradição oral.
Para o rasta, a fé em Jah é a maior afirmação de sua identidade, pois quando sabemos quem somos, imagem e semelhança do Criador, temos o escudo, a armadura e a espada para atravessar os mais desafiadores tempos. Portanto a felicidade não depende de estados emocionais mas sim da mais plena convicção de sua identidade em seu coração.
Que a mensagem de unidade continue se multiplicando pelo mundo levando a consciência de emancipação e autogoverno das famílias e dos povos, pois Jah nos aprovou antes da fundação deste mundo. Rastafári vive!
Leandro Carvalheira (Ital Man)
Livro | RASTAFARI - Cura para as nações - Uma perspectiva brasileira (2ª Ed.)
- Publicado em 21/03/2024
- 2ª edição: 2000 exemplares
- ISBN: 9786589577140
- Idioma: PORTUGUÊS
- Páginas: 196
- Acabamento: Capa laminada e miolo em papel reciclado.
- Tamanho: 15,7 x 23 cm
Em 1920, Marcus Garvey anteviu o surgimento de líder que redimiria os pretos das consequências de séculos de cativeiro, quando advertiu em discurso para milhares de pessoas: “olhem para a África, quando um rei preto for coroado, porque o dia da libertação está próximo!”. Reduzir seres humanos à condição de servos é costume encontrado na história de muitos povos da humanidade; mas a escravidão, como conhecemos nas Américas, foi algo inédito, pois ela foi "naturalizada" e tornada hereditária pelos brancos. A cor da pele passou a ser utilizada por eles como critério para avaliar quem poderia e deveria ser escravizado. Essa prática foi sustentada por meio de argumentos "bíblicos" (como o de que Cam, filho preto de Noé, teria sido condenado pelo pai a servir o irmão branco por ter flagrado o pai bêbado e nú) e "científicos" (como os que a antropologia esforçava-se em elaborar, por meio de teorias e experimentos racistas, para justificar a inferioridade dos povos considerados por eles "primitivos", inferiores).
Embasado nesses argumentos, o moralismo europeu justificou a escravidão e o colonialismo como ações necessárias: identificadas como o "fardo do homem branco". Assim, os pretos foram oprimidos para serem "civilizados" e "cristianizados" pelos brancos, que sentiam-se merecedores de privilégios e confortos, a serem conseguidos por meio do controle e da exploração de pessoas e terras. Garvey dedicou a vida a trabalhar pela redenção econômica, política e cultural dos povos pretos, tornou-se Herói Nacional jamaicano, e é considerado profeta pelos Rastafaris, pois a coroação de Ras Tafari Makonnen como imperador da Etiópia, em 1930, foi interpretada como materialização das palavras dele.
Tafari foi coroado com o título de Haile Selassie I, que significa “Poder da Trindade”, e foi aclamado como “Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judá, Raiz de Davi, Eleito de Deus e Justo Governante da Terra”. Ele foi descrito assim por descender de Menelik I, filho do Rei Salomão com a Rainha de Sabá. Foi por meio dessa união, comentada na Bíblia (no livro dos Reis), no Corão (na Sura Saba) e no Kebra Negast (livro sagrado que relata a saga nacional etíope), que a Etiópia herdou o sangue e as tradições hebráicas. Na época da coroação dele, vivia-se período que a história branca identificou como Vinte Anos de Crise, caracterizado simultaneamente por níveis inéditos de desemprego e inflação, principalmente a partir de 1929, com a Grande Crise nos Estados Unidos.
Esse clima estimulou o imperialismo da Itália, que invadiu a Etiópia pela segunda vez, mas Selassie evitou que o fascismo de Mussolini se estabelecesse por lá, e os etíopes permaneceram como a única nação africana a não ser colonizada por brancos. Na Jamaica, que ainda era colônia inglesa, pretos atentos às palavras de Garvey perceberam Ras Tafari como o redentor deles, aquele que os libertaria da opressão da Babilônia. Assim, passaram a se identificar como súditos do Leão de Judá; que surge na Bíblia (Revelações de São João/Apocalipse) como o único ser digno de encarar o Livro da Vida e desatar os Sete Selos que o travavam, a fim de liderar a humanidade em caminho de justiça e prosperidade.
Após a Segunda Guerra Mundial, a decadência do neocolonialismo branco implicou processos de descolonização e decolonização na África e na Ásia. Haile Selassie I, que permaneceu no poder até 1974, visitou vários países habitados por povos da diáspora africana, como o Brasil, em 1960, e a Jamaica, em 1966 (quatro anos após a independência da ilha). Ele promoveu e apoiou políticas panafricanistas, como as de repatriação, reparações, cooperação e integração dos povos pretos, e foi dos principais propositores e entusiastas da criação da União Africana.
Quando se tornaram independentes, vários países do continente assumiram as cores etíopes nas próprias bandeiras. Foi a partir da década de 1960 que a mensagem do movimento Rastafari, por meio do reggae, espalhou-se pelo mundo. Principalmente por meio de Bob Marley, esse ritmo musical, identificado como Música dos Reis, encantou audiências variadas e revelou-se instrumento poderoso para transformar, com positividade, sentimentos, pensamentos e vontades dos oprimidos. Ao demandar direitos iguais e justiça, os rastas compõem músicas que denunciam a Babilônia, identificada como sistema social e ambientalmente opressor. Certamente, o reggae pode ser percebido e usado como ritmo musical apenas, mas a essência dessa arte, militante e libertadora, representa mais do que instrumento para entretenimento ou lucros.
Porque a internacionalização dessa mensagem depende, em grande medida, do acesso ao idioma inglês, consideramos, inicialmente, realizar este trabalho ao perceber o crescimento do interesse no Brasil pelas vibrações do reggae e a escassez de publicações em português sobre a cultura Rastafari, o que favorece visões superficiais e dificulta compreensões fundamentais sobre esse movimento. Após o lançamento da primeira edição do livro, em 2017, além de promovê-lo pelo Brasil, passamos a buscar contatos com Rastas espalhados pelos países lusófonos, a fim de promover este estudo, e ele tem sido bem recebido, desde então, em lugares como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, o que muito nos alegra. Por meio do reggae, os Rastas denunciam racismo, imperialismo, exclusão social, exploração insustentável dos recursos naturais, e promovem, como alternativa de cura para a humanidade, amor universal e respeito às leis da Natureza. A luta dos Rastafaris vai, ainda, ao encontro das lutas democráticas de outros povos, inspirados e embalados a se libertar de qualquer tipo de opressão.
Este estudo, resultado quase trinta anos de pesquisas, diálogos, vivências e reflexões, não pretende ser relato exaustivo sobre assunto imenso, que é a cultura Rastafari, mas transmitir, de forma leve, fluida e acessível, perspectivas indispensáveis para visão introdutória sobre o que é esse movimento, qual a relação dele com o reggae e como ele chegou ao Brasil. Para isso, combinamos informações sobre o estilo de vida Rastafari e reflexões sobre o momento histórico em que ocorreram os eventos relatados ou analisados, com perspectivas mundiais e brasileiras. Naturalmente, essa tarefa implicou combinar elementos objetivos e subjetivos. A fim de priorizar a fluidez da leitura, evitamos referências acadêmicas ou notas de rodapé. Para quem desejar ir mais a fundo, apresentamos, na Bibliografia, obras que pesquisamos durante a elaboração deste texto. Além disso, nos dias de hoje, sempre se deve aproveitar as possibilidades de pesquisa online, para comparar informações ou intepretações diferentes sobre qualquer tema.
Esta segunda edição conta com mais um capítulo, dividido em duas partes, intitulado "Uma perspectiva brasileira", no qual apresento: como conheci o movimento Rastafari; porque decidi escrever sobre essa cultura.
André Duarte P. de Albuquerque Maceió/2024
O autor nasceu em Recife (PE), graduou-se em jornalismo, especializou-se em relações internacionais, tornou-se intérprete e tradutor do idioma inglês.
Atualmente ele é indigenista concursado na Fundação Nacional do Índio. No começo dos anos 90, André conheceu o rastafari em Londres. Desde então, experienciou e estudou sobre esse tema com paixão, a medida que expandia o conhecimento sobre o reggae. (Confira em: www.mixcloud.com/andré-duarte-pereira-de-albuqu)
Ainda nos anos 90, André começou a estudar sobre a diáspora africana no Brasil, quando conheceu a capoeira e percebeu relações entre ela e o rastafari.
Também na década de 90, ele aproximou-se da macrobiótica e percebeu relações entre ela e a culinária i-tal.
No começo do século 21, o autor integrou a primeira banda de dub de Pernambuco (Tonami Dub).
As primeiras pessoas que o incentivaram a escrever esse livro foram rastas da Guiana (ex Guiana Inglesa), integrantes da banda Congo Nyah, com que teve contato por meio do Tonami Dub.
Este livro começou a ser escrito naquela época e ficou engavetado por mais de 10 anos.
No final de 2015, esta versão começou a ser escrita. Finalmente, em 2017, oferecemos esta obra, até onde sabemos inédita em português, aos curiosos sobre o rastafari.